Caju – Controlada a pandemia, a transformação é essencial
Como todos sabemos o caju africano foi atingido em cheio pelos efeitos comerciais da pandemia
Agora que se começa lentamente a controlar a pandemia, os atores públicos e privados do sector do caju em África devem imperativamente virar-se para a transformação e investir na sua cadeia de valor.
É bom relembrar o que aconteceu em 2020.
A castanha do caju é consumida em todo o mundo e produzida nas regiões tropicais secas da África, Ásia e América Latina.
A África Ocidental é responsável por 45% da produção mundial, metade da qual na Costa do Marfim.
O sul da Ásia, em particular, Índia, Vietname e Camboja, também responde por cerca de 45% da produção mundial, mas concentra 90% da indústria de processamento.
A Tanzânia, Moçambique, Indonésia e o Brasil produzem os 10% restantes.
África, o maior produtor mundial de castanha de caju, que até agora (ao contrário do sul da Asia) não teve a capacidade de criar uma indústria de transformação do caju e continua a exportar castanha não processada, encontrou-se numa situação de desespero quando em 2020 os seus compradores de caju, os gigantes da transformação mundial, Vietname e Índia, fecharam as portas a novas importações do caju devido ao COVID-19.
A disseminação do novo coronavírus forçou os maiores importadores de caju do mundo, incluindo Índia, China e Vietname, a cancelar ou adiar encomendas à medida que as suas fábricas de processamento fechavam devido a bloqueios impostos ao comércio internacional para retardar a propagação do vírus.
O preço do caju no mercado internacional caiu 63% desde janeiro de 2020. Segundo noticiava no pico da pandemia, a agência de informação do setor agroalimentar africano, N’kalô, “a maioria dos exportadores e importadores prefere não se comprometer neste período de incerteza”
Tudo isto aconteceu em pleno período do que deveria ter sido a colheita em alguns países.
No Gana a indústria nascente de processamento praticamente fechou devido a falta de compradores para a castanha processada e a exportação de castanha não processada sofre os efeitos do Covid-19 com a então queda de 63% do preço da castanha no mercado internacional de 1.500 para cerca de 950 dólares americanos a tonelada, com um impacto devastador sobre a subsistência de milhares de produtores de caju ganenses.
A Secretária Geral da Associação de Compradores e Exportadores de Caju do Gana, Mahama Ansomah, disse na altura, que a situação era muito difícil pois os pequenos agricultores contraíram empréstimos para investir para produzir.
Na Guiné Bissau, fortemente dependente das importações, a castanha de caju representa mais de 90% das exportações e 80% da população depende direta ou indiretamente do caju para sobreviver para além do que representa para as finanças públicas.
A campanha de comercialização do caju que deveria ter começado em meados de Março de 2020, foi suspensa devido ao COVID-19.
Nos países com mais possibilidades económicas, como a Costa do Marfim, o Governo disponibilizou 250 mil milhões de CFA para apoiar os principais setores da economia afetados pelo congelamento das exportações (castanha de caju, algodão, borracha, óleo de palma, cacau, café).
A Nigéria perdeu mais de 60 milhões de dólares americanos nas exportações de caju em 2020, segundo o Conselho de Promoção de Exportações da Nigéria.
Face à situação vivida em 2020, pelos produtores e exportadores de caju africanos é imperativo que os poderes públicos e privados avancem decididamente para a transformação e o necessário investimento na cadeia de valor do caju.
Tomás Paquete